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Hoje é seu aniversário

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Hoje é seu aniversário, e esperei ansiosamente por esse dia, alimentei a doce ilusão de abraçar-te, hoje, era a desculpa perfeita, mas você só precisava de desculpas absurdas.

Não há você aqui.

O sol brilhou mais forte como em todas as primaveras, o céu estava claro, e por um momento nublado até cheguei a duvidar, mas é seu aniversário e o sol tinha que raiar.
Como em todos os seus aniversários um esplendido dia, adornado de vida, onde tudo é mais bonito, quase tão lindo como você. É tudo tão seu, tão você que não consigo descrever o dia, ele declara-me a você, é mais seu dia do que eu posso ser.

Há muita vida lá fora e no meio de tantas vidas que se cruzam não há a sua por perto.
E é tão estranho o seu dia sem você, é cheio de expectativas vazias, quase tão grandes quanto o vazio no peito que foi preenchido com dor. Uma dor tão grande que me consome tanto, quase tanto quanto seu olhar me consumia, e só ficam as cinzas, cinzas como os meus dias. Como hoje pode ser tão colorido e doloroso?

Não há quem não possa ver a tristeza em meus olhos, a melancolia da voz denuncia a alma.

E não há quem não me diga que estou distante, que estou perdida, perdida, eu sei...

Não consigo me conter porque há um vazio no mundo, no meu mundo, que só pode ser preenchido por você.

E queria escrever algo que se igualasse a esse dia, mas não posso, não sou boa o suficiente.

Hoje é a dor do silêncio.

Do silêncio eterno, do silêncio, da dor sorrateira que finge que não existe.
Silêncio




Ilusão: Euforia
Consciência: Agonia
E silêncio, e assim se passa o dia, num ciclo só
Só, só
Só silêncio

É o universo sussurrando a minha falta de você. 

Ao velório de um passado que te amou profundamente.

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 São Paulo, oito de março de 2014.

Quando você não se importar as flores a minha volta estarão murchas,já não sentirei o frescor da brisa e o canto das aves não terá beleza.

Quando você não se importar o dia pertencerá a cada dia, os raios de sol já não poderão me aquecer e nem a lua, terna confidente, me servirá de consolo.

Quando você não se importar ficarei em silêncio, meu amigo será o eco da memória, você não responderá mais nada.

Quando você não se importar  o vento frio irá me congelar, não existirá filme que me interesse ou chocolate.

Quando você não se importar irei estampar um sorriso no rosto, colocarei os óculos escuros e montarei o cenário do corpo.

 Quando você não se importar estarei perdida, olharei para o céu a procura das estrelas, mas estará nublado.

Quando você não se importar não haverá nascer ou pôr do sol, novamente o tempo não fará sentido.

 Quando você não se importar facas me cortarão, meu sangue estará por toda parte, mas ninguém nunca saberá.

 Quando você não se importar o fogo me queimará de madrugada, o travesseiro abafará o grito e eu me tornarei cinza.

 Quando você não se importar morrerei ao final da dor e nascerá um outro alguém que não se lembrará de nada por emoção.


Quando você não se importar só não volte a se importar porque não poderá me encontrar, não mais, nunca mais.

Momento de melancolia

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O silêncio da alma envolveu-me abruptamente
Sequestrou-me, parando o tempo.
A confusão instalou-se em minha mente como um véu feito da neblina da noite
Um topor tomou conta do meu ser colocando-me em sono profundo
E de repente senti em minhas costas o peso do mundo
Ou seria apenas o peso dos meus próprios erros?
Como dissociar aqui, o que cometi daquilo que me acometeu?
Quando a vítima também é culpada não há como diferenciar a injúria da sentença, concluí.
O ar faltou, e as doces memórias desfizeram-se como em um filme de terror.
Como um circo do medo.
Elas me atormentavam, e eu corria para braços que me desprezavam, não houve compreensão.
Talvez ninguém me suporte mais, nem eu, nem mesmo em sonho.
E eu me senti como uma criança, só queria colo.
Eram tantas coisas que já não sabia descrever como eu me sentia.
Um acúmulo de coisas, o cúmulo.
Então tudo se tornou uma tristeza só, profunda.
Fechei os olhos para me distrair do mundo, me internalizar.
Internar-me no hospital da mente, mas nem meu próprio mundo estava são.
E o que mais queria era rir daquele momento, fingir que nada estava acontecendo.
As ilusões se desfizeram como açúcar na boca, e pude sentir um sabor amargo.
A vida perdeu o encanto que tinha, e busquei então mágica em olhos castanhos.
Distração.
Dis-tração
Dis-ação
Feridas abertas não aceitam esse remédio.
E como ei de remediar o mundo, se está corrompido também o mundo interno?
Ajude-me a levantar os muros, com sangue ou não, deixarei a cidade alegre outra vez.
Enfrente, em frente!
É um trocadilho bobo, que nunca irei esquecer.
Que Deus ouça minha prece, porque  a fé é pouca, e o impossível eu não posso fazer.

Visão

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Eis que as escamas dos meus olhos caíram.
E pude ver o passado inteiro passando na velocidade da luz
Foi como a morte.
Parte de mim morreu naquele dia.
E todos os anéis eram falsos, e todos olhavam unicamente para seu reflexo no espelho.
Eu sofri.
As ilusões, minhas amigas, estavam quebradas no chão.
Não foi o suficiente.
A visão ainda embaçada fez-se clara, e enxerguei todos os erros que cometi.
Eles formavam correntes ao redor dos meus pulsos, amarras em meus pés.
Só assim lembrei-me do aviso do sol.
Sua luz ilumina a tudo.
Mesmo assim fechei os olhos quando temi a claridade.
Todos os guardas ao redor continuariam a perseguir meus passos se continuasse naquela sala.
Talvez bastasse apenas sair.
Eu não queria admitir, mas as letras jamais dariam a mim a liberdade que necessito para viver.
Será que um dia arrancar-me-iam também as palavras?
E apesar da consciência eu queria continuar ali.
E foi assim que percebi que a pior de todas as prisões são aquelas que começam na alma.



Ilusão

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Eu gosto de uma ilusão
Esse deveria ser meu segundo nome
Mas aí perderia o sentido, porque cada ilusão, o iludido sabe bem, tem um nome diferente.
Mas o que tem uma ilusão?
Nada demais.
Uma ilusão tem um sorriso bonito
Olhos que encantam
Enquanto os meus brilham
Uma ilusão tem a cor do pecado
Ombros largos
E talento de sobra
Ilusão é músico quem sabe?
E me faz dançar essa valsa gostosa que eu adoro
Um passo pra cá e digo que vou.
Um passo pra lá e já não vou mais.
Esse vai e vem desse chove e não molha me seduz na luz desse olhar.
E nada além.
Afinal, uma ilusão não tem nada demais.



Carta para a humanidade

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Meu nome é Terra
Hoje amanheci doente.
Não sei se gostaria de saber, mas imploro em horror.
 Estou doente, pois sangram crianças em meu interior, elas vivem em guerras e tem sua infância roubada, fecham os olhos e seus espíritos inocentes são afastados de mim.
Mas, é ainda pior o choro rasgado das crianças que ficam e imploram por seus pais, seus irmãos, e o amor que não posso dar.
Estou doente, pois pessoas passam fome, são exploradas e mesmo com todas as marcas do trabalho cravadas na pele, há quem pense que eles são culpados por sua própria miséria.
Estou doente, pois ainda existe gente que acha que lugar de mulher é dentro de casa, cativa, escrava, impedem escolhas, impedem sonhos, matam seres em seu interior.
Estou doente, pois ainda existe gente que acha que alguém é inferior por causa da cor, riem dos traços, padronizam os cabelos, se sentem no direito de tirar o direito do outro.
Estou doente, pois alguns matam o outro por raça, credo, cor, gênero, identidade, orientação sexual. Usurpam a vida que evapora de mim, cada vez mais rápido.
Estou doente, pois não aceitam fraqueza, não existe erro, não se pode abalar. Mesmo quando as verdadeiras falhas estão diante dos olhos, eles continuam fechados.
Estou doente, pois os grupos brigam para acabarem com todas as variedades, todas as diferenças. Eles não aceitam conviver com elas.Poucos buscam a paz.
Estou doente, pois vejo a fauna inteira desaparecer. Sinto desespero toda vez que um animal é morto para ficar empalhado em algum lugar. Toda vez que um filhote procura pela mãe sem a encontrar.
Estou doente, pois toda a bela natureza que verdeja em mim está morrendo, e cada árvore cortada por motivo banal me adoece mais.
É tão grande a maldade, desigualdade, traição, egoísmo, corrupção, que escreveria muitas páginas e não poderia terminar.
 Estou em loucura, procuro uma cura sem encontrar.
Não há beleza nas letras, há tanto no mundo que está muito feio.
Estou doente há muito tempo e cada vez piora.
Estou doente.                                                                                                                                
Muito doente e ninguém se importa.
 Cada gota de sangue inocente derramado em mim fervilha e clama por justiça.
Eu não peço perfeição, ninguém é perfeito.

Apenas aprendam a se amar, antes que seja tarde demais. 

Amor impróprio

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Gritos através de ondas
Esperam uma resposta
E nada vem, e nada vem

Letras através do ar
Esperam uma resposta
E nada vem, e nada vem

E eis o teu feitor 
Chicoteando-te com o pior castigo
E qual teu pecado cativo?
É ser escravo do amor

O silêncio aflige-te a alma
E humildemente recolhes-te com terror
Não é o silêncio quem causa a pior dor?
E só há pranto, não há mais calma.

E enquanto arrancam-te a paz
Um sorriso sádico
Nesse momento trágico
Posso ver no rosto de teu capataz

Teu significado é nada
E lhe falta o amor
Deste todo ao teu senhor
A marca anelar é tua prova rasgada 

Até quando escravo resistirás sem rebelião?
O teu dono se apropria com razão sem te ouvir
E o que há de vir?
Além da loucura ardente da tua paixão?

Dorme essa noite
Deixa-te enganar
Quem sabe um dia não te possam dominar
E a lua ouça tua prece antes do último açoite